Especialistas e pacientes conversam sobre os problemas no atendimento no SUS, relação entre Sociedades Médicas e associações de pacientes, além do impacto da pandemia no tratamento dos pacientes reumáticos
Iniciando suas atividades em 3 de outubro, o Webinário de Conscientização da Artrite Reumatoide, foi um evento online, iniciativa da Rede Paulista de Associações de Apoio aos Pacientes Reumáticos, que marcou o início dos projetos no mês de conscientização das doenças reumáticas. Durante todo o mês irão ocorrer diversos encontros virtuais com o objetivo de debater diversos temas de interesse no campo da reumatologia. Participaram da primeira parte do evento o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Dr. José Roberto Provenza, a Dra. Nafice Araújo Costa, vice-presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, Eduardo Tenório do Superando Lúpus, Eni Maria, do Grupasp, Ana Lúcia Paduello, do GruparEncontrAR e Priscila Torres, do Grupo EncontrAR.
O primeiro profissional a apresentar seu ponto de vista sobre o cenário atual na especialidade foi o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia. O Dr. José Roberto Provenza abriu sua participação ressaltando o trabalho das associações junto aos pacientes e disse ser testemunha do empenho dedicado por todos os envolvidos. “Desde o início da minha gestão, da minha diretoria administrativa, eu nunca vi tanta proximidade entre os grupos de apoio aos pacientes reumáticos com a Sociedade Brasileira (de reumatologia). Nós crescemos muito juntos. Eu fico muito feliz. E quem ganha com isso são os pacientes e certamente nós médicos reumatologistas”.
A opinião do médico foi endossada pela vice-presidente da Sociedade Paulista de Reumatologista, Dra. Náfice Araújo Costa. presidente da SBR quanto ao trabalho realizado pelas associações de pacientes. “É realmente um trabalho muito bonito que vocês vem fazendo junto aos pacientes e mantendo essa relação com as Sociedades Médicas muito estreita de maneira que a gente consiga contribuir cada vez mais para a divulgação, para a orientação mais adequada e para o tratamento desses pacientes. Eu tenho plena convicção de que isso tem sido transformador. Acho que a ideia é essa mesma, a gente continuar por esse caminho, está dando certo, a gente está conseguindo atingir bastante objetivos, mas temos muito a aprender e melhorar ainda.”
Já os representantes das associações de pacientes concordaram que os objetivos alcançados até então e a melhora em determinados aspectos dentro da reumatologia também se deve à abertura da SBR junto aos grupos de pacientes. Pois enquanto eles, como pacientes, apresentam a experiência real no dia a dia com a doença, a Sociedade Brasileira de Reumatologia têm condições de contribuir com as questões científicas que são relevantes para os avanços nos tratamentos.
Um ponto destacado por Eduardo Tenório, do Superando Lúpus, é a importância de as Sociedades Médicas entenderem as necessidades dos pacientes. Além de cultivar um bom relacionamento entre eles, atitude que gera benefícios para ambos os lados, segundo ele. Opinião reforçada por Eni Maria, do Grupasp, “Essa união é de suma importância. Temos que estar juntos. Porque tudo que fazemos é em prol do paciente, nada que nós fazemos é pensando em segundas intenções. O paciente em primeiro lugar.”
Dificuldades no encaminhamento correto dos pacientes reumáticos
Para Ana Lúcia Paduello, do GruparEncontrAR, ocorrem muitos casos de encaminhamento errado dos pacientes na atenção básica de saúde. Ela contou que muitos pacientes relatam sintomas ter apresentado sintomas clássicos de doenças reumáticas, mas que em um primeiro momento foram encaminhados para um ortopedista e não para um reumatologista. “Então a porta de entrada do SUS, que é a atenção básica, não tem, a grande maioria, conhecimento mínimo de fazer em encaminhamento qualificado”, afirmou ela.
Sobre essa situação, o Dr. Provenza, explicou que em sua gestão na presidência da Sociedade Brasileira de Reumatologia foi criada a Comissão Multiprofissional e que através dela foram identificadas dois pontos principais a referentes a falta de atendimento público aos pacientes reumáticos no sistema público de saúde. Segundo o médico, esse problema está realmente ligado a falta de orientação da rede básica de saúde, onde a triagem dos pacientes está sendo feita de forma incorreta.
“Muitos pacientes poderiam ter os seus problemas resolvidos na própria unidade básica de saúde, inclusive por clínicos. Porque muitas vezes uma dor articular, uma dor lombar, quando bem tratada, a pessoa com orientação, médico orientada, ele não precisa encaminhar todos os pacientes para o reumatologista”, explicou ele. O profissional destacou que atualmente a missão da SBR têm sido garantir que a equipe das unidades básicas de saúde estejam melhor preparadas para fornecer a primeira assistência, de forma a evitar o congestionamento de paciente na hora do agendamento com o reumatologista. O segundo ponto observado pela Comissão foi que existem poucos profissionais da área disponíveis no SUS.
Além da capacitação dos profissionais da atenção básica de saúde, a Dra. Náfice, da Sociedade Paulista, acredita ser importante ter uma atenção já na graduação desses profissionais. “Porque esse aluno se apaixona pelas doenças autoimunes e então ele esquece de certa maneira de estudar aquilo que é básico na reumatologia… A gente tem que conseguir alcançar e fazer o entendimento desde a graduação. Esse nosso trabalho vai ser mais árduo ainda. Talvez tenham que ser trabalhados mecanismos de ensinamento da reumatologia de outra forma e não só focando nas doenças autoimunes porque elas, apesar de graves, despertam de certa maneira muito mais interesse no aluno desde a graduação. É um trabalho muito profundo, mas não significa que a gente não possa fazer”, afirmou ela.
O impacto da pandemia na reumatologia
O Dr. Provenza reforçou que todos foram muito afetados pelo surgimento da pandemia de Coronavírus, embora acredite que os pacientes sofreram um impacto ainda maior. E quando questionado pela Priscila Torres, do Grupo EncontrAR, sobre como está sendo feito o acompanhamento dos pacientes reumáticos durante este período, o presidente da SBR relatou que houveram pacientes que abandonaram o tratamento. Esse abandono decorreu, segundo ele, devido às mudanças geradas pela pandemia, os problemas de comunicação com os profissionais da reumatologia, além do medo em sair de casa e se expor à contaminação. Como consequência, já é possível notar a regressão no quadro destes pacientes, voltando à fase de atividade clínica da doença.
E aproveitando a oportunidade de falar com os pacientes através do Webinário, o médico ressaltou a volta das atividades no setor, seguindo os cuidados necessários para a segurança de todos. “O que eu quero deixar de mensagem agora é que as coisas já estão voltando ao normal. Nós estamos em uma fase de retomada das consultas. Os atendimentos estão voltando lentamente, no meu consultório os pacientes já estão voltando presencialmente, eu já interrompi os teleatendimentos”.
Para Priscila Torres, é importante que os pacientes ouçam os relatos dos médicos para obter tranquilidade e confiança neste momento de volta aos atendimentos presenciais. Ela reforçou também que a pandemia trouxe ensinamentos importantes que todos devem levar para a vida. “Nunca mais os brasileiros que viveram a pandemia deixarão de lavar as mãos. Então são coisas que deveriam fazer parte da nossa rotina de todos os dias. A gente fala muito de saúde em doenças reumáticas nas nossas redes, mas a gente tem que falar também de autocuidado. Autocuidado também é lavar as mãos, usar máscara. É você não abandonar o tratamento, é não ter medo do reumatologista, é não tomar uma decisão sem consultar o seu médico”.
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