“De que são feitos os dias? – De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças. (..)” Cecília Meireles
De que são feitos nossos dias? Meus, nossos dias de pequenas /grandes lutas diárias contra tudo que enfrentamos quando portadores de doenças crônicas? De pequenos desejos talvez, para que consigamos aquela consulta mais rápida, o remédio em falta (nosso direito), ou grandes desejos como a remissão das dores permanentes … remissão para sempre.
De que são feitos nossos dias? Sim, temos direitos a todos esses pequenos e grandes desejos, e ao silêncio necessário quando o coração se aflige, ao sorriso solto que não cala a dor, mas acalenta a alma. Quando leio essa introdução à poesia de Cecília Meireles, me pergunto aonde ficam nossas” saudades e nossas silenciosas lembranças.”?.
Talvez nem tenhamos tido tempo de ao receber o diagnóstico de nossas doenças ( tenho psoríase ,artrite psoriásica e fibromialgia) crônicas, registrar na memória ,no coração o que vivemos antes do que começaremos a viver a partir do diagnóstico.
Será que percebemos o processo de luto que tenhamos passado, pelo corpo conhecido, aos enlaces e desenlaces da vida, as conquistas e aos não limites experimentados? Mas que são memórias afetivas, e que na luta diária dos nossos tratamentos nos esquecemos de reviver. Recordações que podem estar silenciadas, mas que uma vez remexidas, fotos revisitadas, memórias reavivadas, podem nos ajudar a casear nossa história pessoal.
Do medo que nos liga a todas as mudanças pós diagnóstico, a alegria do riso, do constrangimento nas fotos engraçadas, dos amores, dos beijos, dos amigos e familiares. Somos história, apesar das dores do corpo e da alma, não somos retalhos. Temos como juntar e fazer um belo trabalho. Não é fácil, quantas vezes eu vou e volto, choro e sorrio, tento e desisto… mas enquanto psicóloga eu olho e sei que este é o movimento do ser humano.
Com doença crônica ou não, somos pessoas em busca de harmonia, de fragmentos de felicidade e esperança. Sabemos que nosso caminho é árduo, não adianta nos dizer que estamos aumentando as dificuldades. Difícil é quem está ao lado e não quer se incomodar, ou ser incomodado. Podemos sim dividir nosso dia, nossas dúvidas, nossos medos. Temos muito que viver e muito que recordar. De que são feitos nossos dias?
Você quer ouvir, temos muito para contar!
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