Nos dias atuais, a obesidade representa um importante problema de saúde pública: mais de 50% da população está acima do peso. Em paralelo, observamos que a busca por dietas, tanto para perder peso como para melhorar a saúde, tem sido uma demanda constante.
Sabemos que a obesidade pode favorecer ou piorar as doenças reumáticas, sobretudo pela sobrecarga mecânica nas articulações e na coluna vertebral, mas também pela perpetuação de um ambiente mais inflamatório. E não é coincidência que a procura por modelos de alimentação capazes de atenuar inflamações e dores e retardar o envelhecimento do sistema que engloba ossos, articulações e músculos venha sendo mais frequente no consultório do reumatologista, o médico que lida com osteoartrite, artrite reumatoide, espondilite, lúpus, gota, fibromialgia, entre outras condições.
Mas, na equação entre doenças reumáticas e alimentação, o denominador não é tão comum assim. Antes de tudo, alguns fatores determinantes no surgimento e na cronificação dessas enfermidades precisam ser considerados. É o caso dos aspectos genéticos e de situações que fogem do âmbito alimentar, como estresse, comorbidades, uso de certas medicações, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo etc.
Entrando no capítulo da alimentação, sabemos que existem diversos modelos de dieta, mais ou menos populares com o passar do tempo.
E, cientes de que o controle da inflamação é importante no contexto das doenças reumáticas, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é buscar uma dieta menos inflamatória. Embora seja difícil definir qual alimento é considerado inflamatório ou anti-inflamatório, uma vez que nossa dieta não é composta somente por um ou outro nutriente, mas sim por um conjunto deles, alguns micro e macronutrientes podem ser classificados assim e o padrão alimentar pode ser checado por meio do Índice Inflamatório da Dieta – IID (Dietary Inflammatory Index).
Por meio de um grande banco de dados, o Brazilian Osteoporosis Study (Brazos), com amostragem representativa da população brasileira adulta, já observamos que mulheres têm IID ligeiramente superior ao dos homens e pacientes com doenças reumáticas inflamatórias possuem valores de 2 a 3 vezes maiores. Ou seja, o padrão inflamatório da dieta desse grupo seria significativamente maior e pode ter impacto nos desfechos de melhora ou piora da atividade da doença.
Além das escolhas alimentares, produtos da família dos probióticos e prebióticos, usados para melhorar a microbiota intestinal e a saúde em geral, também estão na ordem do dia em nossos consultórios. No entanto, sua utilização não deve ser generalizada e feita sem critérios bem estabelecidos.
O mesmo vale para a retirada sistemática e indiscriminada de determinados alimentos, como glúten e lácteos. O médico e o nutricionista precisam avaliar bem o paciente e verificar se faz sentido indicar, como nos casos que cursam também com alterações do hábito intestinal, disbiose ou intolerância à lactose e ao glúten.
Embora a real relação entre as doenças reumáticas, a dieta desequilibrada, a obesidade e a síndrome metabólica seja motivo de estudos, acredita-se que uma seja influenciada pelas outras em um fluxo contínuo. Fica difícil saber quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?
A respeito da alimentação em si, está bem estabelecido que o maior consumo de fibras e proteínas com melhor valor biológico, bem como alimentos com menor índice glicêmico, associados à menor ingestão de gorduras saturadas, açúcares refinados, excesso de sal e de bebidas alcoólicas fermentadas ou destiladas, compõem o padrão considerado mais saudável.
Esse padrão é similar ao encontrado na dieta do Mediterrâneo, que, somado à maior ingestão de água, exercícios físicos regulares, sono reparador, preservação da saúde mental e adequado ritmo de trabalho, incrementam o bem-estar e a saúde global.
A perda de peso também é fundamental para as doenças articulares que têm maior sobrecarga, especialmente envolvendo joelhos, quadris, tornozelos e coluna lombar, pois são locais de maior suporte mecânico em nossas atividades diárias.
Assim, pensando em quem tem uma doença reumática, ao invés de um nutriente ou alimento específico, a melhor estratégia é a busca por uma dieta e um estilo de vida equilibrado. Esse argumento está consonante com uma recente revisão sistemática sobre o tema em pacientes com sete doenças reumáticas (osteoartrite, artrite reumatoide, espondilite, artrite psoriásica, lúpus, esclerose sistêmica e gota), publicada em junho de 2022.
Não existe uma dieta-padrão e universal que possa promover todos os benefícios para todos os indivíduos com doenças articulares. A individualização da escolha alimentar e a ponderação de custos e preferências e a viabilidade das refeições, dentro e fora de casa, são elementos fundamentais para garantir o acesso e a adesão a um cardápio que ajude a controlar a inflamação, a dor e a rigidez, garantindo a mobilidade, a autonomia e a qualidade de vida.
O reumatologista, juntamente com o nutricionista, pode avaliar a complexidade do quadro e, de acordo com a ingestão alimentar habitual, verificar a necessidade de suplementação, se não for possível a adequação por meio da dieta. Além disso, irá reforçar a importância de incorporar escolhas mais saudáveis à mesa visando à prevenção de doenças concomitantes, como obesidade, diabetes, hipertensão e osteoporose.
Tudo para que, melhorando o funcionamento intestinal e a saúde como um todo e otimizando o tratamento da doença reumática em si, seja possível obter maior bem-estar e longevidade.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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