A pandemia provocada pelo novo coronavírus chamou a atenção para o panorama da cadeia fria de medicamentos no Brasil. Antes mesmo da crise sanitária, no entanto, a pesquisa “Parâmetros dos Medicamentos Termolábeis”, já adiantava as discussões sobre a temática em um cenário pré-Covid-19. O trabalho, à época provocado pela atualização da legislação acerca dos fármacos termolábeis, constatou que a etapa mais crítica do processo é o transporte desses produtos e que o armazenamento e a manipulação incorretos influenciam diretamente na qualidade deles.
Para o mestre em Ciências Farmacêuticas e doutorando em Inovação Terapêutica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador principal à frente do estudo, Thiago Douberin, os dados incentivam o aprimoramento dos processos relacionados à cadeia fria de medicamentos no país, o que ele considera urgente. “Em momentos de grandes crises sanitárias, assim como a que vivemos, que exige tanto dos profissionais da linha de frente, é uma questão de saúde pública cumprirmos os corretos protocolos de transporte, gerenciamento e utilização dessas drogas”.
“As vacinas contra a Covid-19, apesar de serem considerados produtos termolábeis, possuem legislação própria, o que exige qualificação contínua dos profissionais, bem como impõe o uso de equipamentos de conservação específicos, capazes de manter a estabilidade térmica, inviabilizando as geladeiras domésticas, por meio da RDC no. 197/17”, coloca o pesquisador, ao lembrar que a pandemia tornou o debate sobre os medicamentos termolábeis ainda mais sensível.
“Apesar de os imunizantes serem protagonistas no atual estágio da pandemia, também precisamos estar atentos aos medicamentos de mesma natureza, como o brometo de rocurônio, bloqueador neuromuscular amplamente utilizado no processo de intubação, desde março do ano passado. Será que estes produtos estão sendo movimentados e armazenados conforme as especificações do fabricante?”, questiona.
Os resultados do estudo apontaram a ineficácia parcial dos parâmetros no que se refere ao controle dos medicamentos, o que influencia diretamente para que os produtos cheguem alterados para o consumidor final. A ausência de treinamento relacionado aos termolábeis foi apontada por 66,9% farmacêuticos, que também relataram não serem capazes de analisar relatórios ou executar quaisquer atividades relacionadas à qualificação, ou validação (20,7%). Ainda se identificou falta de conformidade com as metodologias de gestão dos medicamentos, assim como falhas nos processos logísticos.
A iniciativa avaliou a situação a partir do ponto de vista do principal fator que assegura a qualidade no processo: o farmacêutico. Para tanto, contou com a participação de 1.793 profissionais, quantitativo considerado de alta relevância sob os aspectos estatísticos. A ampla adesão da pesquisa foi consequência do apoio de 12 conselhos regionais de Farmácia – Acre, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e Distrito Federal -, além do Conselho Federal de Farmácia (CFF).
O estudo completo já encontra-se disponível, através do artigo publicado dia 13 de junho, na Research, SocietyDevelopment, intitulado “Systematic assessment of the drugs cold chain in Brazil by pharmaceutical professionals” e pode ser acessado pelo link: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/16144
Fonte: Comunicação do Conselho Federal de Farmácia
Autor: Murilo Caldas
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