Provavelmente você já ouviu a expressão popular “água no joelho”. Mas o que isso significa exatamente? Essa condição de saúde é conhecida cientificamente como derrame articular e trata-se da presença do aumento do líquido sinovial dentro das articulações. Por conta disso, aparecem dores e inchaços que comprometem os movimentos.
“A presença do líquido sinovial é normal na articulação e é produzido pela membrana sinovial, que a reveste internamente. Tem a coloração amarela e uma viscosidade característica. Uma das funções do líquido sinovial é lubrificar e nutrir a cartilagem articular, porém, quando produzido em excesso, surge esse sintoma desagradável. O problema é uma consequência a alguma ‘agressão’ que a articulação sofre”, explica Moises Cohen, ortopedista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
A membrana sinovial pode sofrer traumas, ser usada em excesso ou ser acometida por inflamações. Isso gera um desequilíbrio no líquido presente nessas estruturas enchendo a articulação de fluidos, que podem também conter pus ou sangue.
“O acúmulo anormal desse líquido na articulação acontece por diversos motivos. Pode ser devido a um trauma, uma inflamação por conta de uma doença autoimune ou doenças degenerativas”, destaca Alexandre Penna, ortopedista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
É mais frequente nos joelhos porque essas articulações sofrem mais atritos e são usadas em excesso, principalmente por quem pega muito peso ou pratica esportes de forma frequente, como é o caso dos atletas. Mas o derrame articular também afeta outras articulações como quadris ou ombros, por exemplo.
Quais são os sintomas?
Na maioria das vezes, a pessoa sente dor e sensibilidade na região afetada. Isso ocorre devido à pressão criada dentro da articulação ou pelo processo inflamatório.
Também há a sensação de peso na articulação e o joelho fica mais inchado quando comparado ao outro. Mas a intensidade dos sintomas costuma variar de acordo com a quantidade de líquido na articulação, se há presença de sangue e/ou pus e também quando o indivíduo se movimenta mais.
Alguns outros sintomas comuns são:
- vermelhidão e sensação de calor na região;
- dificuldade para movimentar o local e dobrar o joelho;
- diminuição do volume muscular ou fraqueza do quadríceps (parte da frente da coxa);
- rigidez articular;
- dor em repouso;
- dificuldade para realizar atividades do dia a dia como caminhar.
Principais causas
É bastante importante identificar o que causou o derrame articular para ter o tratamento adequado. Há diversas razões para ocorrer o problema. Veja detalhes a seguir.
Traumas: sofrer alguma lesão, torções ou pancadas no joelho provoca inchaço na região. Algumas vezes ocorre acúmulo de sangue (hemartrose) após um trauma nos ossos, menisco ou ligamentos do joelho.
Doenças crônicas: algumas doenças reumatológicas ou autoimunes comprometem as articulações e a membrana sinovial. Essas condições causam uma inflamação e/ou desgaste da cartilagem e como consequência aparecem esses inchaços dolorosos no joelho.
Entre as doenças estão gota (acúmulo de ácido úrico no sangue), lúpus (doença inflamatória autoimune) e artrite reumatoide (doença inflamatória crônica que atinge articulações). Além disso, pessoas com hemofilia, ou seja, com uma doença que dificulta a coagulação, estão mais propensas a ter hemartrose.
Sobrecarga: realizar esforços repetitivos ou fazer sobrecarga na articulação do joelho —na academia ou por excesso de peso, também compromete a região e causa a inflamação.
Infecções: o acúmulo de pus, que acontece devido a infecções por bactérias também aumenta o risco do problema. Pode ocorrer também um tipo de artrite chamada séptica, ou seja, uma infecção que traz dor e febre no local da articulação.
Além do desconforto e limitação dos movimentos, se o líquido for infeccioso, as consequências podem ser graves, pois há uma destruição da cartilagem articular de forma permanente, levando assim a uma restrição do movimento dessa articulação.
Quem corre mais risco de ter derrame articular?
As pessoas mais velhas estão mais propensas a ter osteoartrite, que é uma degeneração das articulações. Por conta disso, aumenta-se o risco do aparecimento da “água no joelho”. Além disso, esportistas e ex-atletas também estão no grupo de risco.
“O derrame articular é uma consequência de um problema de saúde. Os atletas podem ter inflamação da articulação devido a lesões da cartilagem. E os ex-atletas costumam ter degenerações cronificadas e apresentam com mais frequência a condição”, completa Penna.
Pessoas obesas forçam mais a articulação do joelho, o que contribui para aumentar as chances de aparecer o problema.
Diagnóstico e formas de tratamento
O diagnóstico geralmente é realizado após relato dos sintomas pelo paciente e exames específicos. O reumatologista ou ortopedista pode solicitar uma punção do joelho para analisar se ocorreu um derrame articular e o que causou a condição.
“Pelo exame físico é possível observar a presença do líquido articular com algumas manobras. Exames de imagens como ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética conseguem confirmar o diagnóstico. Pode ser realizada a artrocentese, que é uma punção articular e a análise do líquido sinovial para investigar se tem infecção ou cristais nessa articulação”, afirma Levi Jales Neto, reumatologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
A cor do líquido retirado também ajuda a identificar a causa. “Se na punção vier sangue, provavelmente é devido a um trauma. Já se vier opaco ou turvo pode ser inflamatório ou infeccioso, devendo ser encaminhado para a investigação diagnóstica”, destaca Cohen.
Depois de identificado o que ocasionou a “água no joelho” define-se qual é a melhor forma de tratamento.
O que poderá incluir:
Medicações: poderão ser prescritos anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos (se for uma infecção) e corticoides orais. Também são indicados medicamentos injetados diretamente na articulação do joelho (intra-articular), em alguns casos.
Artroscopia: se houver a presença de lesão de menisco, rompimento de ligamento ou casos mais resistentes ao tratamento medicamentoso, indica-se a artroscopia. Esse procedimento cirúrgico é realizado via endoscópio e visa a reparar os danos da articulação.
Crioterapia: a técnica que usa o frio para tratar diversos problemas é eficaz para reduzir a dor e os inchaços nos joelhos. “A terapia de gelo é a melhor maneira de ajudarmos o corpo a absorver o derrame e, consequentemente, aliviar os sintomas dolorosos do derrame articular”, completa Dennis Barbosa, ortopedista do Instituto de Ortopedia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Punção: se o inchaço for intenso e causar muito desconforto, o especialista pode optar por uma punção (artrocentese) para aliviar. “Nesses casos, retira-se uma boa parte do líquido em excesso por meio de uma agulha e seringa”, destaca Thiago Fukuda, fisioterapeuta e professor do Centro Universitário São Camilo.
Repouso articular: quem sofre com o derrame articular pode precisar de repouso quando sentir dor e inchaços. Os especialistas indicam o uso de imobilizadores para limitar o movimento e a carga nas pernas e joelhos. “Podem ser prescritos imobilizadores ou muletas para poupar o movimento. Essa sobrecarga em excesso pode estressar a articulação e desencadear o extravasamento de líquido intra-articular. Mas geralmente a imobilização é por pouco tempo para evitar a perda da massa e da força muscular”, completa Fukuda.
Há como prevenir?
A prevenção do derrame articular está sempre ligada a causa. “O fortalecimento da musculatura e dos tendões periarticulares reduzem o risco de lesões. Além disso, controlar o peso diminui a chance de artrose de joelhos e como consequência o derrame articular”, afirma Neto.
Também é importante buscar ajuda especializada ao sentir alguma alteração no joelho como dor ou inchaços para evitar que essa articulação sofra ainda mais danos. Outra forma de prevenção indicada pelos especialistas é evitar sobrecarregar o joelho nas atividades do dia a dia.
Pessoas que correm ou praticam esportes com regularidade devem usar calçados e equipamentos de proteção adequados para o joelho. E também realizar alongamento e aquecimento antes dos exercícios.
Revisão técnica: Alexandre Penna.
Fonte: Viva Bem Uol.
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