O diagnóstico de endometriose para maioria das mulheres pode ser um grande baque, pois além de silenciosa a doença pode causar infertilidade e fazer o sonho da gravidez parecer mais distante. De acordo com dados da Anvisa de 2020, a endometriose atinge pelo menos 10% das mulheres brasileiras em idade reprodutiva de 25 a 35 anos.
A enfermidade acontece por conta de uma infecção ou lesão que gera acúmulo, em outras partes do corpo, das células que recobrem a parte interna do útero, o chamado endométrio, que geralmente sai naturalmente junto com a menstruação.
Essas células endometriais como são sempre expelidas junto com a menstruação, podem se acumular por fora da cavidade uterina, como na bexiga, ovários, tubas uterinas e intestino. Quando não tratada, a doença pode ainda formar nódulos e atrapalhar o funcionamento de outros órgãos do corpo e/ou até gerar infertilidade.
Dor que vai além da doença
Desde a primeira menstruação aos 11 anos, Andréa Mello Diniz, sentia fortes cólicas, mas pela falta de recursos e informações nos anos 80, conviveu até a vida adulta com esse problema.
“Eu sempre tive muita cólica ao ponto de eu ter que ir para o posto de saúde tomar remédios e meu fluxo ia de moderado para intenso dependendo do mês. Naquele tempo ter dor era associado a adolescência e o período de transição, então era considerado algo normal e eu tinha que conviver com essa situação”, explica a assessora de imprensa.
Mesmo com a doença oculta desde a fase da infância para pré-adolescência, Andréa conseguiu engravidar e foi mãe aos 24 anos, de Lucca Diniz Higa, hoje com 21 anos. “Foi uma gravidez muito difícil e de risco, tive que tomar remédios para evitar um aborto. O meu filho nasceu de 35 semanas, prematuro. Durante a gestação as contrações eram muito fortes, parecia que eu estava com cólica, esses momentos foram muito difíceis para mim”, relata.
Somente em 2020, Andréa descobriu que tinha endometriose. “A médica na época sugeriu que eu pusesse o Dispositivo Intrauterino (DIU) Mirena, mas como eu já tinha meus 46 anos, esse tipo de tratamento não era ideal para mim. Eu já tinha muito excesso de menstruação e isso só piorou a minha situação. Acabei desenvolvendo síndrome do útero disfuncional – que acontece quando os ovários demandam muito do útero e a gente menstrua sem parar- isso piorou significativamente minha saúde tive anemia, uma hemorragia intensa que me fez passar a virada de ano para 2021 no hospital e foi aí que um médico me encaminhou para cirurgia, mas eu já estava tomada pela doença”, conta.
A comunicadora tinha focos de endometriose na bexiga, no intestino e possuía um nódulo. Quando foi realizada a cirurgia foram descobertos também pontos da doença em todo peritônio (camada que reveste os órgãos do abdome) de Andréa.
“Eu tomei muitos pontos internos, na bexiga foi feita uma raspagem para eliminar a doença. Não era um foco grave em comparação ao meu intestino que também passou por uma limpeza, mas eu ainda acabei perdendo o útero, colo do útero, tubas e meu ovário direito foi o único que conseguiram limpar, porque meu médico me achou muito nova para adiantar a menopausa”, conta.
Andréa ainda revelou que sentiu falta de mais acolhimento médico durante a descoberta da doença, de um primeiro tratamento mais certo para não ter passado por um procedimento tão invasivo, de ter uma conversa sobre a melhora de seus hábitos de vida para outros mais saudáveis.
“No pós-operatório passei com outra médica que me receitou um bloqueador hormonal, e que aquela altura não era tão indicado também. Sete meses depois, a endometriose está ativa com micro focos menores no intestino. Agora passo com outra especialista, que me indicou uma dieta anti-inflamatória antes de eu retornar para o bloqueador. Há alguns anos também descobri que tenho colite controlei por um tempo, mas agora ela está retornando por conta da endometriose e é outra coisa que vou começar a tratar”, afirmou.
Como identificar a endometriose e quais os tratamentos indicados
A ginecologista, Isabella Albuquerque, elenca os sintomas que podem sugerir para endometriose e o principal deles é a dor crônica. “Essa dor pode ser de forte intensidade no período menstrual bem como pode acontecer também fora dele, durante a relação sexual, ao evacuar ou ao urinar. O processo inflamatório envolvido na doença também pode diminuir a fertilidade, causando dificuldade para engravidar”, alerta.
A doença inflamatória é crônica e por esse motivo deve ser acompanhada e tratada durante todo período reprodutivo da mulher, diz a especialista. “Esse tratamento inclui não apenas o bloqueio hormonal mas, também, toda forma de diminuição do processo inflamatório crônico, que inclui uma dieta anti-inflamatória, atividade física, perda de peso, sono reparador, diminuição do stress e bons hábitos intestinais”, salienta.
A especialista ainda explica por que a doença é de difícil detecção. “A dificuldade de identificação da doença existe não apenas por que a maioria dos exames comumente realizados não são os mais específicos para identificação de lesões, mas também por que algumas lesões podem ser pequenas o suficiente para não aparecer nesses exames”, diz.
Os exames mais indicados para investigação da endometriose são a ressonância magnética e o ultrassom com preparo intestinal. “Entretanto, a confirmação do diagnóstico não é necessária para começarmos o tratamento. Dessa forma, toda dor pélvica crônica deve ser investigada e tratada, independente da visualização de lesões”, explica.
Fonte: Claudia
Descubra mais sobre Artrite Reumatoide
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.