Ela chegou de surpresa, como aqueles temporais que se formam do nada, aquele vento forte levantando tudo ao redor: as folhas, a poeira, envergando até o chão a vegetação…
Era o auge da minha carreira, como Coordenadora Educacional e professora experiente em tantos segmentos, ainda trabalhava em uma faculdade particular e vivia os primeiros anos de um casamento muito abençoado. Era final de 2009, tantos sonhos e projetos em vista, fui surpreendida por uma certa dificuldade para digitar, depois uma dor nos dedos e pulsos, até que apareceu a primeira crise.
Eu levantei no início de uma manhã gritando de dor no braço, fui até o pronto atendimento acompanhado do meu marido, nada fazia aquela dor passar. Era somente a primeira de todas as crises, tive 03 antes do diagnóstico e de passar por 03 ortopedistas achando que tinha LER.(lesão por esforço repetitivo) O último me indicou um reumatologista e meu presente de natal em 2009 foi saber que eu tinha uma doença crônica, incurável e que precisaria tomar remédios a vida toda: a AR artrite reumatoide.
No começo eu não chorei, eu nem entendi nada, achei que era algo simples, nem comentei com ninguém. Dali a pouco a tempestade iria embora, viria o sol. O sol não veio…
Era muito agressiva no começo, os corticoides me fizeram ficar inchada e reter líquidos, eu insisti que ia ter uma vida normal. Queria tudo, fazia tudo, fingia que ela não estava lá…entrei para um programa e fui fazer um doutorado.
Em 03 anos ela devastou minha vida, minou minhas emoções, me ensinou a depender dos outros, a ser humilde, ela me paralisou às vezes…vieram os tombos, os vidros que não abriam nunca, o cabelo caindo e os meus lindos cachos indo embora, um dia inteiro para limpar uma casa, os pratos e louças que sumiram de tanto quebrar ao cair, os passeios deixados de lado… vieram semanas na cama, meses de um cansaço infinito só de abrir os olhos pela manhã e, sem alternativas o auxílio dos antidepressivos.
Olhava para uma folha em branco, precisava escrever minha tese. Estava tudo na minha mente e no meu coração, mas ao final muito debilitada não conseguia escrever ou me concentrar. A dor não me abandonava… o médico chegou a diagnosticar uma fibromialgia que ainda me ronda. Eu olhei para mim mesma, levantei a cabeça para o Céu e orei: você não vai me destruir e nem me vencer. Aceitei minhas limitações e busquei as melhores formas de vencer os obstáculos. Decidi que ia viver um dia de cada vez e nunca, nunca parar de ter sonhos e acreditar. Outra fase da doença está chegando, limitando ainda mais meus movimentos, mas eu não vou parar. Agradeço a Deus, pois temos muitos recursos, tratamentos, bons especialistas, agradeço principalmente o Dr. Eduardo B. Lindote aqui na capital do Mato Grosso que tem sido um grande profissional e combatente nesta batalha.
Agradeço ao Encontrar e ao Encontrar-zap que me ajudaram a conhecer pessoas especiais e maravilhosas: dor compartilhada é dor diminuída, isso é verdade…
Esse ano eu conquistei meu título de Doutora em Linguística e Língua Portuguesa em uma excelente universidade pública, sou aluna do 3 ano de Direito de uma instituição pública também, continuo ministrando aulas, vendo vidas sendo transformadas todos os dias pela educação, isso não tem preço. E o sonho? Sim, ele está aqui: ter um filho mesmo atravessando as crises pela mudança de dosagens e medicamentos a fim de engravidar…
Os ventos não me assustam…me sinto amada, tenho um marido maravilhoso, tenho tudo que preciso e uma família linda, mas tenho acima de tudo um Deus comigo nisso tudo e uma arma nas mãos: a informação e o conhecimento que nunca deixam minhas lágrimas turvarem minha visão e me fazerem desistir.
Dra Eliana Moraes de Almeida Alencar tem Artrite Reumatoide, há 6 anos, o diagnóstico foi aos 30 anos e atualmente está com 36 anos, é casada sem filhos e atualmente está trabalhando
Eliana M. A. Alencar – Cuiabá- MT
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