A enxaqueca está entre as maiores causas de incapacidade global. Em mulheres jovens, especificamente, é a causa principal. Só nos EUA, mais de 40 milhões de pessoas têm esse distúrbio neurológico frequentemente incapacitante. Pesquisas mostram que 95% das pessoas terão ao menos um episódio na vida. Ainda assim, as opções de tratamento são limitadas e as abordagens convencionais podem nem sempre levar a uma melhora dramática.
Isso foi verdade para um homem de 60 anos que viveu com episódios de enxaqueca por 12 anos. Ela se tornou crônica seis meses antes de ele consultar os autores de um estudo recente publicado no BMJ. O homem já havia recebido o tratamento padrão, eliminado os gatilhos conhecidos de sua dieta e se engajado em técnicas de redução do estresse, como meditação e yoga. Isso não melhorou seus sintomas.
Então, como parte de um estudo sobre as ligações entre dieta e enxaqueca, ele mudou para uma dieta baseada em vegetais chamada dieta de baixo consumo de alimentos inflamatórios diários (LIFE). Depois de algumas semanas, o homem sentiu um alívio notável de seus episódios de enxaqueca graves e frequentes.
Seu caso representa o período mais longo em que a enxaqueca entrou em remissão apenas como resultado de uma intervenção dietética, acreditam os autores do relatório. Eles concluíram que, embora mais pesquisas sejam necessárias, uma dieta alimentar integral à base de vegetais pode representar um tratamento para a enxaqueca.
O que é enxaqueca?
A enxaqueca pode ser uma doença grave e incapacitante. Existem dois tipos: episódica e crônica. Se uma pessoa tem enxaqueca episódica, experimenta dor relacionada em menos de 15 dias por mês. Se uma pessoa tem essas dores de cabeça por mais de 15 dias por mês por mais de três meses, os médicos classificam a condição como crônica.
Um episódio de enxaqueca geralmente dura de quatro a 72 horas e envolve uma dor de cabeça forte e latejante que piora com o movimento ou exposição à luz, som ou cheiro. Essas dores de cabeça podem ser seguidas por uma fase que envolve cansaço, falta de concentração e sensibilidade ao som, chamada de “ressaca de enxaqueca”.
Folhas verde-escuras
A terapia atual envolve medicamentos e evitar gatilhos. Muitas dietas podem ajudar, incluindo uma de baixo índice glicêmico, dieta cetogênica e dieta de baixa gordura. David Dunaief, autor sênior do estudo, Brittany Perzia, autora principal e Joshua Dunaief, autor colaborador, investigaram os benefícios da dieta LIFE, que é especialmente rica em vegetais de folhas verde-escuras, que são fontes essenciais de muitas vitaminas, minerais e antioxidantes.
Depois de mudar para a dieta LIFE, o paciente relatou uma redução dramática na frequência dos episódios de enxaqueca, de 18–24 por mês para uma ao mês em sua consulta de acompanhamento de dois meses. O alívio que sentiu foi rápido, disseram os pesquisadores. Ele ficava incapacitado por enxaquecas quase que diariamente antes de iniciar a dieta LIFE. Na marca de dois meses, o paciente parou os medicamentos para enxaqueca. Aos três meses, houve uma cessação completa.
Dieta LIFE: quais alimentos comer?
Como parte da nova dieta, o homem consumiu um smoothie LIFE de 902 gramas todos os dias, que continha ingredientes como couve ou espinafre, mirtilos e sementes de linho. Ele também consumiu 142 gramas de vegetais com folhas verde-escuras e limitou a quantidade de grãos inteiros, vegetais ricos em amido, óleos, laticínios e carne vermelha que consumia diariamente.
A dieta já foi objeto de pesquisas anteriores, como um estudo de 2019 e outro de 2020. Após três meses de considerável alívio da enxaqueca, o homem decidiu adicionar alguns alimentos e bebidas à sua dieta por um período experimental de 60 dias. Ele descobriu que o chá gelado, o salmão e a clara do ovo, ingredientes básicos de sua dieta anterior, desencadeavam dores de cabeça moderadas e de curta duração que a aspirina poderia aliviar. No geral, desde sua mudança para a dieta LIFE, ele permaneceu sem enxaqueca por sete anos.
Vegetais com folhas verde-escuras: por quê?
Os pesquisadores acreditam que a mudança pode ser resultado do consumo de carotenoides ou betacaroteno, que são abundantes em vegetais de folhas verde-escuras. Eles também acreditam que a dieta pode ter ajudado o homem a identificar os gatilhos. Carotenoides e betacaroteno são compostos que podem reduzir inflamação sistêmica e o estresse oxidativo, que estão implicados na enxaqueca.
Embora o paciente tivesse uma dieta baseada em vegetais rica em betacarotenos antes de adotar a dieta LIFE – comendo batata-doce diariamente – ele ainda sentia enxaqueca severa. Segundo os pesquisadores, os suplementos de betacaroteno, vegetais em pó verdes e vegetais ricos em amido, como a batata-doce, não funcionam. Eles aumentam os níveis de betacaroteno, mas não têm efeitos clínicos. Além disso, os suplementos de betacaroteno foram considerados potencialmente perigosos, aumentando o risco de câncer de pulmão em fumantes e aumentando as doenças cardíacas. A dieta LIFE, em comparação, pode ser uma maneira segura e rica em nutrientes para tratar a enxaqueca e outras doenças crônicas.
Fitonutrientes podem reverter sintomas
As investigações de 2019 e 2020 sobre a dieta LIFE, que incluíram os mesmos autores, entre outros, encontraram níveis significativamente reduzidos de proteína C reativa (PCR) em pessoas que experimentaram a dieta. Quanto mais alto o nível de PCR, mais inflamação ocorre no corpo e maior o risco de doenças relacionadas, que podem ser reumatológicas ou cardíacas, por exemplo.
Os autores do presente relatório descobriram que os níveis de PCR do homem permaneceram estáveis, o que eles acreditam refletir o fato de que ele já tinha uma dieta saudável, principalmente à base de vegetais. Em vez disso, a equipe se concentrou em aumentar seus níveis de nutrientes dos vegetais, ou fitonutrientes. David Dunaief sugeriu que os benefícios da dieta LIFE para a redução da enxaqueca podem derivar dos fitonutrientes, em vez de apenas do betacaroteno.
Usamos o aumento dos níveis sanguíneos de betacaroteno como marcador substituto de fitonutrientes. O aumento dos fitonutrientes provavelmente causou a reversão das enxaquecas”, afirmou o pesquisador.
Mudar de dieta pode não trazer alívio para todos
Outros especialistas que analisaram o estudo enfatizaram que cada pessoa responde de forma diferente às intervenções dietéticas. Ainda assim, porém, admitiram que pode ser plausível que alguns pacientes possam obter alívio mudando para uma dieta baseada em vegetais, que não inclui quaisquer alimentos que possam causar inflamação. A pesquisa mostrou que as alterações na microbiota intestinal podem ter um impacto significativo na enxaqueca.
Também afirmaram que a dieta do paciente deve sempre ser avaliada, especialmente quando certos alimentos são considerados gatilhos para dores de cabeça/enxaqueca. Porém, aconselhar pacientes a mudar completamente o regime alimentar típico é algo delicado. Além disso, disseram ser importante notar que mudanças na dieta não podem ser tomadas de forma despreocupada, pois é importante que os indivíduos recebam a nutrição adequada.
Outro destaque dado por quem repercutiu o estudo foi a importância de educar as pessoas sobre nutrição, pois muitas não têm uma ingestão alta o suficiente de vegetais, e que aumentar isso levou a uma melhora na sintomatologia da enxaqueca/dor de cabeça.
Os pesquisadores por trás do relato do caso acreditam que a notável melhora do paciente sugere que muitas pessoas com transtornos semelhantes à enxaqueca podem se beneficiar da adoção da dieta LIFE. “É tão importante o que você põe na boca. A dieta LIFE é um complemento eficaz para a medicina convencional e pode ser um caminho para reverter, prevenir e tratar doenças crônicas com resultados duradouros”, afirmou David Dunaief.
No entanto, ele enfatizou a necessidade de grandes ensaios clínicos prospectivos e randomizados de alimentos integrais e dietas à base de plantas para determinar quais pessoas com quais condições se beneficiariam. “Nesse ínterim, há poucas desvantagens para os pacientes, quando devidamente administrados por seus médicos, tentarem esta dieta por algumas semanas ou, idealmente, meses”, encerrou.
Fonte: Dr. Jairo Bouer – Uol
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