Palestra sobre cuidados nutricionais apresentada pela Dra. Maria Izabel Lamounier, nutricionista representando a ABCD “Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doenças Inflamatórias Intestinais”, apresentada durante o 2º EncEA.
Palestrante: Dra. maria Izabel Lamounier
Tema: Cuidados Nutricionais nas Espondiloartropatias
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A dra. Maria Izabel é nutricionista e trabalha com aconselhamento nutricional desde a fundação da ABCD Crohn – Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn, em 1999. Ela vem pesquisando e trabalhando nos cuidados nutricionais das doenças inflamatórias intestinais desde então.
“A mensagem que eu quero trazer hoje é que a alimentação, principalmente em relação a doença de Crohn, tem um papel fundamental. Afinal, para que a alimentação nos traga todos os seus benefícios, precisamos ter equilíbrio ao nos alimentar”, comenta a dra. Maria Izabel.
Para a nutricionista, o equilíbrio nos nutrientes traz longevidade e bem-estar. Conseguir compor um cardápio com proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais e fibras é a base do equilíbrio alimentar. Para a nutricionista “a natureza é generosa em oferecer tantas opções”.
Alimentação Equilibrada da DII (Doença Inflamatória Intestinal)
Para entender como funciona a doença em sua fase ativa e de remissão, a dr. Maria Izabel dividiu as duas fases para alertar o que é preciso diminuir e o que pode ser liberado:
Fase Ativa da Doença: dieta pouco resíduo; dieta sem lactose; dieta sem sacarose; baixo teor de gordura. Neste caso o movimento peristáltico fica mais lento.
Fase de Remissão da Doença: dieta liberada e respeitar as intolerâncias individuais. Já nesta fase, a doença não está se manifestando no processo inflamatório.
Para a nutricionista, a privação total de qualquer alimento acarreta em problemas no organismo, claro, salvo as restrições alérgicas e outras questões do paciente. Mas como exemplo, a interrupção total de proteína animal, que pode acarretar na pouca produção (ou na falta) de defesas do organismo humano, como leucócitos e linfócitos, que vem das proteínas.
Já na proteína vegetal, representada pelos grãos, precisam ser diminuídas consideravelmente na fase ativa da doença, pois são alimentos que fermentam mais. Em caso de pessoas veganas, que não comem nenhum tipo de proteína animal, se ela estiver perdendo peso, pode ser necessária a introdução de suplementos para manter um bom estado nutricional.
Nos carboidratos a divisão está nos complexos (amido, milho, trigo, arroz e batata) e nos simples (cana de açúcar, mel, frutose, lactose e sacarose). Como é de conhecimento de muitos, os carboidratos se transformam em açúcar no nosso organismo, e em um momento ativo da doença, é preferível que o paciente faça a escolha pelos carboidratos complexos, que possuem moléculas mais densas e não “quebradas” de maneira mais vagarosa, assim, não chega com tanta facilidade ao intestino, como os carboidratos simples.
Outro grupo nutricional que a dra. Maria Izabel trouxe como exemplo foi a gordura, também dividida em saturadas (é a gordura que “gosta de entupir” os vasos sanguíneos), monoinsaturadas (são os azeites, mesmo sendo uma “boa gordura”, que não pode ser ingeridas em demasia) e poli-insaturadas (óleo de peixe, que tem um papel importante nas doenças inflamatórias).
“Ao utilizar a gordura de óleo de peixe, ela produz substâncias anti-inflamatórios, ou com menor caráter inflamatório no organismo. Por isso que se ouve em todo lugar ‘coma ômega três’, “ou suplemente de ômega três”, ou ainda “coma peixe, que é rico em ômega três’. Mas nem todo peixe é rico em ômega, apenas os de água fria. Contudo, a sardinha é um peixe rico neste óleo. Mas não a em lata, a fresca”, explica a nutricionista.
Na sequência, a nutricionista chama atenção para os minerais e o ferro, divididos em duas categorias: Ferro não heme – férrico (grãos, vegetais, vitamina C, ácido clorídrico, que auxiliam absorção; carne, que aumenta a absorção em 4 vezes; oxalato e fitatos, que prejudicam a absorção) e Ferro heme – ferroso (carne vermelha, fígado, peixe, aves, mariscos e ostras).
“Na retrocolite, não é incomum o paciente perder sangue. Além disso, o cansaço em excesso pode ser sintoma de anemia, falta de ferro no organismo. Nesta divisão, existem duas formas dos alimentos ricos em ferro entrarem de maneira produtiva no nosso organismo. Os alimentos ferrosos, possuem um ferro que, ao chegar no intestino, entra com facilidade. Já os alimentos que possuem ferro férrico precisam de outra substância para extrair o ferro dos alimentos, que é a vitamina C.
Quando o paciente, ou qualquer pessoa em geral, come estes alimentos ricos em ferro férricos, precisa ingerir também alimentos ricos em vitamina C. Por exemplo, espremer um limão na comida, tomar um suco de acerola e outras opções de alimentos que trazem a vitamina C”, salienta a nutricionista.
O cálcio também fez parte da palestra de Maria Izabel. Alimentos ricos neste mineral previnem a perda óssea e são ricos em vitamina D, responsáveis por manter o equilibrio no organismo. Isso combinado com atividade física regular e o não uso de cigarro (ele impede a absorção do cálcio) e consumo exagerado em bebida alcoólica, e no caso da vitamina D a exposição ao sol em períodos antes das 10h e após ás 16h.
As fibras são alimentos que ajudam muito no equilíbrio de uma alimentação saudável. As fibras estão nas frutas, farelos de aveia, grãos (as leguminosas), legumes, farelo de trigo, grãos integrais e verduras.
“Mesmo importantes, na fase ativa da doença é preciso tirar as ‘fibras insolúveis’, que são as verduras folhosas, grãos integrais e o farelo de trigo, mas as fibras solúveis são bem-vindas, que são legumes, aveia, frutas e as leguminosas batidas e coadas. Ao sair da fase ativa da doença, o restante da alimentação pode voltar ao cardápio”, explica a nutricionista.
Maria Izabel comenta ainda sobre a lactose e ressalta a importância de tirá-la da alimentação na fase ativa, por várias razões.
“A principal razão é que no nosso intestino, mais precisamente na parede dele, região responsável por produzir a enzima lactase, ela é responsável por quebrar a lactose, que por sua vez se transforma em açúcar e entra no intestino. Mas se ele estiver inflamado, essa substancia não entra. E a lactose fica parada nesta região e não é absorvida.”
“Logo, ela começa a fermentar na região que ficou parada. Porém, começa a gerar desconfortos para o paciente, como flatulência e dores abdominais”, esclarece a nutricionista.
Uma observação importe que a nutricionista passa é que, se a doença de Crohn estiver localizada no intestino delgado, onde se produz a enzima de quebra de lactase, 100% dos pacientes na fase ativa da doença vão ter intolerância a lactose. Se estiver localizado no intestino delgado distal, a propensão é menor, de 68%, se estiver no Íleo e Cólon baixa para 54,9% e só no Cólon, vai para 43,5 %.
Já na fase de remissão, a nutricionista deixa um recado.
“Coma sem culpa. O que a gente come reflete no intestino. Isso tem até um nome científico, chama-se ‘eixo cérebro intestinal’. Se você olha uma comida e pensa que ela pode te fazer mal, ela pode sim te fazer mal.
Da mesma maneira que se você pensar que ela vai te dar força e vai te fazer bem, o eixo cérebro intestinal vai reconhecer como benefícios também. Na fase de remissão da doença, comam sem culpa.
Ao fazer o acompanhamento, observar como a alimentação reage e manter-se em estado nutricional saudável, é possível ter uma vida com mais qualidade. E algo muito, mas muito importante, beba água, sempre e muito. É possível sim ter uma alimentação equilibrada na fase ativa da doença e na fase de remissão. Viva bem”, aconselha.
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