A dor pélvica crônica (DPC) apresenta prevalência em torno de 16% na população feminina, afeta principalmente mulheres na idade reprodutiva e associa-se à disfunções físicas, emocionais, comportamentais e sexuais. A dor, sintoma mais frequente, muitas vezes possui caráter constante e pode piorar no período pré-menstrual e menstrual.
Várias são as causas de DPC, tais como: ginecológicas, urológicas, gastroenterológicas, musculares, vasculares e neurológicas, visto a pelve possuir diversas estruturas anatômicas. Entre as doenças que mais frequentemente determinam DPC tem-se: a endometriose, a síndrome do intestino irritável, a síndrome da bexiga irritável, vulvodinia, síndrome dolorosa miofascial e dor neuropática.
Dra Telma Mariotto Zakka, ginecologista com área de atuação em dor, coordenadora do Comitê de Dor Urogenital da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) e responsável pelo ambulatório de dor pélvica crônica do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo, explica que, muitas vezes, atribui-se à endometriose a causa das dores. “Entretanto, é muito importante considerar que 60% das pacientes com endometriose são assintomáticas, ou seja, não têm dor, portanto, é necessário considerar todas as estruturas presentes na pelve, não apenas o endométrio”, afirma.
Geralmente a dor na região pélvica é do tipo cólicas, latejamento, pontadas, de forte intensidade, que se associam à dificuldade para urinar e defecar, desconforto durante ou após as relações sexuais, sono não reparador, enxaqueca, ansiedade, depressão e dificuldade de concentração. De difícil diagnóstico e tratamento, 60% das pessoas que sofrem de DPC permanecem sem diagnóstico ao longo da vida.
No diagnóstico, é muito importante uma entrevista objetiva e detalhada para avaliar fatores de piora e melhora da dor, investigar doenças sexualmente transmissíveis, que aumentam em até quatro vezes o risco de DPC, investigar a possibilidade de violência sexual, moral e física. O exame físico minucioso, incluindo o exame ginecológico, é imprescindível para o diagnóstico da dor. O tratamento, sempre que possível, deve ser multidisciplinar, pois como se trata de uma região com muitas estruturas, com disfunções emocionais associadas, às vezes é necessário associar aos medicamentos, fisioterapia e psicoterapia. Os remédios que podem ser incluídos na rotina dos doentes são, por exemplo, antidepressivos, em pequenas doses, e analgésicos. “Proporcionam melhora da dor e da qualidade de vida, facilitando a realização das atividades da vida diária e profissionais”, completa a especialista.
Embora não seja uma regra, a ocorrência de abuso sexual, físico e moral na historia das mulheres com DPC é frequente, gerando quadro de depressão e ansiedade. Como a doença é mais incidente na faixa etária reprodutiva e produtiva, as atividades físicas, profissionais, sexuais e o lazer ficam prejudicados, determinando prejuízo para a saúde emocional e incapacidade em graus variados. A dor, maior fator incapacitante, piora para caminhar ou sentar, nos dias frios, com exercícios físicos, atividade sexual, na TPM, para urinar e ou evacuar, com condições emocionais, levando a paciente à abandonar sua vida social, profissional e sexual.
“Apesar de se tratar de uma doença debilitante, é possível curá-la, desde que diagnosticada correta e precocemente. O projeto de cura deve ser bilateral, do paciente para com o médico e do médico para com o paciente, pois só assim estabelecemos medidas adequadas para reabilitá-la”, finaliza.
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