“Se antes os incômodos na coluna e no corpo eram comuns para a grande maioria da população, isso cresceu. Tivemos um aumento do número de indivíduos com dores nas costas, lombalgia, dores na cervical, punhos, dores lombares por artrose e aumento na ocorrência de hérnias de disco. A vantagem é que, na maioria dos casos, esses problemas são reversíveis” – Daniel Oliveira, médico ortopedista especializado em coluna vertebral
Da cama para o sofá, do sofá para a mesa, e de volta à cama. As consequências da pandemia para o corpo são visíveis e, como tudo está interligado, o aspecto emocional impacta diretamente na saúde física. É o que indica o médico ortopedista, especializado em coluna vertebral, Daniel Oliveira. “Com mais tempo dentro de casa, grande parte das pessoas parou ou diminuiu as atividades físicas e passou a trabalhar em modo home office. A ergonomia dos escritórios foi trocada inicialmente pela cadeira e a mesa da sala, da cozinha, o sofá ou a cama”, descreve.
O estresse prolongado, conforme o ortopedista, pode se tornar crônico, tensionando a musculatura e provocando dores nas costas ou no pescoço. “Se antes os incômodos na coluna e no corpo eram comuns para a grande maioria da população, isso cresceu. Tivemos um aumento do número de indivíduos com dores nas costas, lombalgia, dores na cervical, punhos, dores lombares por artrose e aumento na ocorrência de hérnias de disco. A vantagem é que, na maioria dos casos, esses problemas são reversíveis, principalmente se percebidos a tempo”, salienta o médico.
RETOMADA
A pandemia não acabou, mas, aos poucos, a vida que se levava antes de 2020 começa a ser retomada. “Precisamos passar menos tempo em frente às telas, estabelecer horários para iniciar e encerrar as atividades no computador, notebook ou tablet, além de cuidar para evitar que esse tempo seja usado com a posição correta da coluna, e fazendo pausas durante o dia para alongar o corpo”, orienta Daniel Oliveira.
O médico acredita que a pandemia mudou o corpo e trouxe, sim, consequências negativas, problemas que provavelmente passariam despercebidos ou que seriam vistos e sentidos apenas com o avançar da idade. “Mas mostrou também como é importante cuidarmos de nossa saúde, física e mental. É nosso bem mais precioso. Se antes dávamos importância ao envelhecer bem, hoje, descobrimos que esse equilíbrio é essencial.”
Entretanto, ele lembra que de nada adianta cuidar da alimentação, praticar atividades físicas e manter a postura se não houver a devida atenção ao nível de estresse a que as pessoas se submetem no dia a dia. “O estresse libera hormônios que causam maior percepção da dor e são responsáveis por intensificar a tensão muscular. Quando isso ocorre, há uma redução da circulação de sangue nos tecidos e de oxigenação”, diz, e acrescenta: “A dica é recorrer a técnicas de relaxamento, atividades que nos deixem em estado de fluxo e que tragam prazer em meio a tanta ansiedade, medo e situações de exaustão.”
CORAÇÃO
“A pandemia trouxe um legado preocupante e não me refiro às sequelas trazidas pelo vírus. A saúde do brasileiro de forma geral piorou”, alerta Diogo Umann, médico com formação em cardiologia clínica e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, com experiência em clínica geral e geriatria. Houve o aumento do índice de obesidade, das internações por infarto e AVC, do alcoolismo, tabagismo e sedentarismo, ele enumera, entre outros.
Levantamento do Ipsos Global Advisor aponta que o brasileiro foi o que mais ganhou peso ao longo da pandemia, na comparação com outros países. Enquanto na média global 31% dos indivíduos engordaram, no Brasil, esse índice chega a 52% da população. “É claro que as pessoas não começaram a engordar agora, esse índice já está crescendo há alguns anos. No entanto, o contexto da pandemia acelerou esse processo. As pessoas passaram a consumir comidas mais calóricas, se exercitar menos e estão mais estressadas”, segue Diogo.
Na esteira do aumento de peso, a influência negativa para o surgimento ou agravamento dos quadros de hipertensão, diabetes, desequilíbrios de colesterol e triglicérides. “A tendência é de que as doenças crônicas se agravem e que mais pessoas passem a apresentar esse tipo de doença”, continua o cardiologista.
O número de internações por infarto e AVC também cresceu. Muita gente, que já era hipertensa ou diabética, lembra o médico, acabou deixando o acompanhamento médico e os cuidados necessários negligenciados. “Portadores de doenças crônicas ainda estão deixando de procurar serviços de saúde por medo do vírus. Exemplo disso é a queda abrupta que percebemos na quantidade de exames de rotina. As pessoas ficaram com medo de frequentar clínicas e hospitais e deixaram suas comorbidades crônicas descompensadas. Sem controle, diabetes e hipertensão podem causar infarto, AVC e cegueira”, chama a atenção.
O contexto de estresse, de incertezas e medo da morte, ou as dificuldades advindas do momento socioeconômico delicado, também levaram ao aumento do tabagismo e do alcoolismo. “Vale lembrar que a telemedicina hoje já é uma realidade e está à disposição. O que não pode é parar de acompanhar”, conclui Diogo.
Fonte: Jornal Estado de Minas.
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