“O envelhecimento da população e o aumento da fragilidade exige que se dê cada vez mais importância às doenças reumáticas e, por conseguinte, à Reumatologia”, afirma Augusto Faustino. O especialista alerta para o impacto negativo das doenças reumáticas, defendendo assim que as mesmas deviam ser vistas como uma prioridade por parte da Tutela. “Infelizmente, são desvalorizadas e consideradas patologias evitáveis e próprias da fatalidade do envelhecimento, mas isso não é verdade”, enfatiza em entrevista ao SaúdeOnline.
O reumatologista afirma que, caso sejam diagnosticadas atempadamente, pode-se evitar quer o sofrimento decorrente do seu agravamento quer os custos diretos e indiretos. Como realça, “as doenças reumáticas são responsáveis por uma grande morbilidade, sofrimento e custos económicos para doente, família, sociedade”. Face a esta realidade, Augusto Faustino é perentório: “É completamente incompreensível não haver mudanças, não se dar mais atenção a este problema de saúde.”
O presidente do IPR lembra que já existiu um Programa Nacional contra as Doenças Reumáticas da Direção-Geral da Saúde, contudo, o mesmo deixou de ser prioritário em 2020. Acrescem ainda as dificuldades relativas à rede de referenciação hospitalar em Reumatologia, que tem tido diferentes versões. “Estas doenças não são tão mediáticas como a diabetes ou as cardiovasculares por não terem um peso tão grande em termos de mortalidade, mas não deixam de causar grande sofrimento e de acarretar vários custos com baixas por incapacidade e com reformas antecipadas.”
Outro ponto que faria toda a diferença, na sua opinião, é a formação obrigatória em Reumatologia no internato de formação específica (IFE) dos médicos de família. “É inadmissível que os futuros especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF) não sejam obrigados a fazer estágio nesta área; eles próprios são unânimes em considerar que é uma mais-valia para a sua prática clínica.”
O reumatologista sublinha a importância destes profissionais de saúde, que acompanham os utentes ao longo da vida, e pede para que deem especial atenção a casos de dor, porque “90% dos doentes reumáticos têm esta sintomatologia”. “Deve-se perceber o que está subjacente a esse quadro álgico quando não se trata de uma causa traumática, pois pode ser uma doença reumática.”
O diálogo entre a MGF e o IPR há muito que é uma realidade, assim como com outras especialidades, o que é visível, em particular, nas Jornadas Internacionais do IPR, que decorrem todos os anos em novembro. “Numa fase inicial, é preciso referenciar-se para Reumatologia, mas inevitavelmente o acompanhamento tem de ser multidisciplinar.”
Quanto ao número de especialistas em Reumatologia, mostra-se satisfeito e com esperança no futuro, já que tem havido um aumento do número de internos. Esta aposta na especialidade deve-se muito, segundo diz, ao trabalho desenvolvido ao longo dos 75 anos do IPR, uma casa que abriu portas quando ainda não havia a especialidade. “Temos contribuído imenso para a formação de reumatologistas, aliás, os centros que começaram a surgir nos hospitais contaram com profissionais da casa.”
Augusto Faustino destaca ainda as mais-valias do Instituto para os doentes que têm acesso a uma equipa multi e interdisciplinar – Reumatologia, Consultas específicas de patologia, Podologia, Reabilitação. Esperam ainda voltar a ter, num futuro próximo, Psicologia e Terapia Ocupacional. “Sinto um enorme respeito e admiração pelos profissionais do IPR que, desde o início, contribuíram para a criação e o desenvolvimento da Reumatologia, que é tão importante para os doentes”, reitera.
MJG
Fonte: Saúde Online
Descubra mais sobre Artrite Reumatoide
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.