Quando falamos em dor articular, devemos lembrar que são as articulações, as responsáveis pelo movimento do corpo humano, e uma pessoa com dor em alguma articulação com certeza vai ter uma limitação funcional, pois a dor limita o seu movimento, limita a realização de atividades diárias, então quando temos dor em articulações, somos privados de movimento, onde atrapalha a nossa vida desde as atividades diárias mais básicas, até as atividades de lazer e trabalho. A Drª Dra Juliana Barcelos de Souza – fisioterapeuta, fala sobre esse tema em sua palestra no IV Congresso Sul Brasileiro da Dor, que aconteceu no dia 16 e 17 de setembro em Florianópolis.
O impacto da dor articular vai além dos sintomas, não devemos tratar só a dor, mas tratar também o fator que desencadeou essa dor, com reabilitação através de fisioterapia, e tratamentos que tragam alívio. Outro fator que muitas vezes é muito valorizado e não é essencial no controle da dor, são os exames de imagem, que muitas vezes não apresentam alterações, mas o paciente reclama de dor, sente a dor naquele local, e muitas vezes o resultado e a interpretação de um exame de imagem acaba tendo mais importância do que o que o paciente esta relatando, então independente do resultado da imagem, deve-se valorizar essa dor e principalmente a perda de função que ela está causando no paciente. Um exemplo clássico é a dor anterior do joelho, que pode ter varias causas, e conforme a causa, haverá leves diferenças no tratamento dessa dor, quando se tem uma dor articular do joelho anterior, se avalia as tensões musculares dessa perna, e consegue-se perceber causas musculoesqueléticas que justifiquem esse aumento de compressão patelo-femural que pode facilitar uma lesão de cartilagem, o que é um ponto de vista biomecânico da dor articular, mas não é só isso, quando existe uma dor articular local, há uma reação inflamatória e essas inflamações tem ações periféricas no local em que estão ocorrendo. Quando essa dor ocorre uma vez, por um período de tempo curto, essa informação sobe para o córtex onde é interpretada como dor e se tem alterações no comportamento, a pessoa pode mancar um pouco e ter limitações, quando essa dor aguda não é tratada ela pode durar por mais tempo e se tornar crônica, então em muitos casos em que dores articulares localizadas poderiam ter sido resolvidas precocemente, acabam revertendo para um quadro de dor e limitação crônica que muitas vezes é incapacitante, porque essas informações de dor bombardeando o sistema nervoso central acabam causando essas alterações importantes, alterações fisiológicas que vão mudar a modulação da dor, e o bombardeio de informação dolorosa na medula promove alterações que a sensibilizam e a fazem interpretar outros sintomas como dor, um exemplo é quando um paciente descreve que só de tocar já sente dor, o toque não é um estimulo doloroso em situação normal, mas quando se tem essas alterações ele começa a ser.
Impacto Biopsicossocial da dor
É preciso saber identificar o quando essa dor interfere na sua vida social, saber identificar a dor, quando dói e porque dói, o significado que você dá para a dor e o quanto ela interfere na sua participação social e profissional. Tanto a dor aguda quanto a dor crônica devem respeitar esse modelo biopsicossocial, que em grande maioria está relacionado somente à dor crônica e deve ser levado em conta desde a fase aguda da dor, buscando maneiras de tratar e manejar essa dor desde o inicio para que seja prevenido o quadro de dor crônica futuramente. No Brasil os pacientes tem muito acesso à exames de imagem, que geralmente são repetidos várias vezes ao longo do tratamento e que acabam não tem influencia na conduta terapêutica, é preciso dar mais valor à função do que a imagem, essa característica entra na recomendação que a OMS tem feito aos profissionais de saúde sobre a CIF, onde o objetivo é tratar o paciente avaliando funções e estruturas do corpo, como o paciente desenvolve as atividades, qual a participação dele, se o paciente tem ou não uma doença de base, pois muitas vezes ainda não se tem nenhum diagnostico porem a dor já se faz presente da vida desse paciente e fatores ambientais e pessoais. Todos esses fatores interagem entre si, é importante não dar valor somente a dor e sim a sua função, reabilitar essa condição, minimizando assim essa dor.
Então não basta apenas tratar a dor e sua intensidade, mas sim analisar o sofrimento ligado à ela e a incapacidade, o que muda o contexto da abordagem dessa dor como sinal vital. A dor articular tem uma prevalência alta, 22% dos adultos tem artrite, porem apenas 10% das artrites tem complicações, algumas dores em 30% dos casos duram até 30 dias, 60 à 85% tem dores nas costas de forma aguda e breve e até em 40% desses casos ocorre a cronificação das dores. Um paciente que possui sua dor crônica estável, porém já com alguma sequela de mãos, punhos e outras articulações, precisa ter o conhecimento de que, se pode realizar atividades e utilizar esse membro de uma forma adaptada e que se houver dor após a função/atividade, o paciente deve saber associar essa dor ao esforço que foi realizado e de que não tem a necessidade de uma intervenção medicamentosa para aliviar essa dor, essa mudança comportamental e o entendimento da causa da dor é o que o paciente precisa entender para conviver com essa limitação e adaptar a função do braço, mãos, pernas que estão em sequela pela doença. Promover a mudança de comportamento e de vida do paciente ao manejo da sua dor é o objetivo que o profissional da saúde deve buscar, interagir e mudar a funcionalidade para quebrar o ciclo vicioso da dor. A origem da dor não é só biomecânica ou inflamatória, existe o fator social e psicológico que é um importante desencadeador e responsável pela informação levada ao sistema nervoso central.
Texto por Dayane Ferreira de Melo
Inspirado na palestra: Porque investigar a dor articular? – Dra Juliana Barcelos de Souza – Fisioterapeuta, IV Congresso Sul Brasileiro da Dor.
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